Olá,
Mais uma reflexão sobre a vida...
Ontem a noite assisti o documentário sobre a polêmica cineasta (entre outras milhares de aptidões) Leni Riefenstahl.
O filme mostra a trajetória fantástica dessa mulher de alma sensível e genial, entretanto conhecemos também centenas de rótulos pejorativos atribuídos à ela por seu envolvimento com o movimento nazista.
Do início profissional até o primeiro contato com Adolf Hitler, ela ainda jovem estava aprendendo constantemente a lidar com seus inúmeros talentos. Foi atriz, roteirista, produtora entre outros. Sua carreira seguia bem até cair nas graças do Furher. Ele a convidou para gravar o Congresso do Partido Nazista, e deste momento em diante Leni Riefenstahl seguiria como a cineasta oficial do regime totalitário, de extrema direita e nacionalista.
O documentário mostra o envolvimento profissional, as tentativas de se desvincular do regime e ainda as humilhações que Leni sofreu ao longo de sua vida.
Outra coisa que me veio a mente foi uma antiga propaganda do jornal Folha de São Paulo (1988)1, onde começa um fundo branco com bolinhas pretas e uma voz em off dizendo (enquanto isso a câmera vai se afastando lentamente até aparecer a figura completa, Adolf Hitler):
"Este homem pegou uma nação destruída, recuperou sua economia e devolveu orgulho ao seu povo. Em seus 4 primeiros anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o PIB crescer 102% e a renda per capita dobrar. Aumentou os lucros das empresas de 175 milhões para 5 bilhões da marcos. E reduziu a hiperinflação a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura e quando jovem imaginava seguir a carreira artística. É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade, por isso é preciso tomar muito cuidado com a informação e o jornal que você recebe. Folha de São Paulo, o jornal que mais se compra e o que nunca se vende".
Qual era a situação do povo alemão após a I Guerra Mundial e a Crise de 1929? Qualquer crítica àqueles que seguiram o movimento nazista deve se basear primeiramente no contexto histórico. As atrocidades cometidas foram um terceiro momento, onde o grau de envolvimento dos indivíduos já era tamanho que para muitos não tinha mais volta.
No documentário, várias vezes o locutor questiona por que Leni não saiu da Alemanha?
A realidade do país em um primeiro momento era de praticamente não existir, pois a miséria, a fome, a situação econômica, a moral e o sentimento pátrio estavam totalmente destruídos.
Adolf Hitler surge em meio a esse cenário caótico como um fio de esperança para a recuperação. Quando ele assume o poder em 1934 e de fato inicia várias transformações, o povo alemão o apóia. Será que não faríamos o mesmo diante de uma situação concreta semelhante (desconhecendo o resultado futuro)?
Ele devolveu o orgulho nacionalista alemão, cabe aqui citar aquela máxima: "tudo em excesso faz mal". E a história segue.
Então, voltando para todos os rótulos e humilhações dirigidos à Leni Riefenstahl, será que foram ao menos fruto de uma reflexão mais séria e contextualizada?
Ela foi proibida de proferir palestras em certos lugares, ao visitar Hollywood foi mal recebida por toda parte e sempre mencionada como A Musa nazista, A nazista entre outros.
Coloco aqui outra reflexão, quem domina a indústria cinematográfica? Quem tem dinheiro, é claro, afinal como bancar superproduções que consomem orçamentos comparáveis a economia de pequenos Estados. Mas quem tem esse dinheiro? Os judeus. Sim, de fato vítimas de uma enorme perversidade e crueldade, mas que utilizam dessa prerrogativa para contar apenas um lado, o lado obscuro dos fatos ocorridos e apontar culpados, apenas isso.
O exemplo dado por um colega, que a Orquestra Filarmônica de Israel (2) não toca nenhuma obra de Wagner, pois é rotulado como anti-semita e também foi infeliz ao ter seu trabalho admirado por Hitler. Acho que os judeus poderiam ensinar uma grande lição ao mundo, tocando sim Wagner, compreendendo a obra de Leni Riefenstahl, fazendo desse modo com que a arte e sua beleza possam romper com quaisquer barreiras ideológicas.
É um assunto delicado, complexo que ainda hoje provoca reações irracionais e passionais. Não posso falar muito, pois também me deixo afetar por uma parcialidade evidente. Então façamos juntos o exercício de buscar compreender o outro, do ponto de vista dele e levando sempre em consideração o contexto histórico geral.
Afinal, a história só é contada por aqueles que vencem e essa parcialidade constrói discursos que acabam sendo tomados como verdade absoluta e perigosa.
Até breve.
(2) O maestro argentino Daniel Barenboim declarou hoje em Berlim que uma lei proibindo a execução de obras de Richard Wagner (1813-1883) em Israel é preferível ao atual tabu. "Se há políticos contrários à apresentação da música wagneriana, que façam uma lei. Mas a coisa não pode ser seletiva - em Israel ouve-se Wagner no rádio e na televisão e se pode comprar CDs com sua música. Os celulares tocam o tema de 'A Valquíria', mas a Filarmônica não pode interpretá-la. Não faz sentido", disse o maestro.